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Blogue RBE

Ter | 23.02.21

Cadernos do Centenário de José Saramago

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Fonte da imagem: https://blimunda.josesaramago.org/

A revista mensal digital gratuita da Fundação José Saramago comemorou em dezembro o seu centenário. Tem nome de mulher, Blimunda, a protagonista do livro Memorial do Convento (1982) de José Saramago que sabe ver o interior das pessoas e colecionar vontades.

O lançamento do seu primeiro número, em junho de 2012, coincidiu com a abertura ao público da nova sede na Casa dos Bicos que, seguindo os princípios da Fundação, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e Carta Universal dos Deveres e Obrigações dos Seres Humanos 1, tem sabido conjugar questões literárias e da vida cultural portuguesa com temas ambientais e sociais que exigem pensamento e ação coletiva.

A 12 de fevereiro 2021 é publicada a 101ª edição 2 da revista num novo formato que facilita a leitura, partilha e permanente atualização que conta com novas secções, entre as quais “Cadernos do Centenário - José Saramago: os primeiros cem anos (1922-2022)”, dedicado aos cem anos do nascimento cidadão e escritor que se assinala a 16 de novembro de 2022.

Carlos Reis, Comissário para o Centenário, inaugura esta secção com um texto sobre a preparação da efeméride, no qual afirma que a Fundação José Saramago tem um papel central na sua conceção e implementação, mas outros atores e entidades desempenharão um papel complementar, gozando de autonomia na reinterpretação da intervenção cívica e literária de Saramago. Esperam-se abordagens a partir de diferentes artes e linguagens (cinema, teatro, dança, banda desenhada, pintura) e perspetivas (literatura, história, ética, democracia, meio ambiente, Deus), à luz das quais se compreende a projeção nacional e internacional do autor e atribuição do Prémio Nobel em dezembro de 1998.

O centenário tem um logotipo 3 criado pelo designer espanhol Manuel Estrada, autor do logo da Fundação.

O seu programa está a ser preparado e incide em quatro eixos:

1. Biografia, formação e ação cívica na comunidade;

2. Leitura e debate em escolas, bibliotecas, reuniões académicas que tem na Carta Universal de Deveres o seu documento de referência;

3. Publicações a partir de reedições da obra e de trabalhos de investigação publicados em quase 60 países e mais de 40 idiomas;

4. Reuniões científicas de natureza académica realizadas no mundo.

A RBE partilha da responsabilidade e privilégio coletivos desta comemoração e, por isso, a 11 de dezembro de 2020, dia seguinte ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, publicou no seu Portal e Blogue propostas de educação centradas na reflexão e ação dos jovens e que têm por base a Carta Universal de Deveres e outros textos de Saramago. Elas estão reunidas em O dever dos nossos deveres e serão alargadas e aprofundadas ao longo dos dois anos de comemoração. Para a RBE é fundamental a criação de oportunidades em que todos exerçam os seus direitos e o cultivo de uma responsabilidade ética e cívica pelos outros e comunidade, capaz de despertar da indiferença e apatia e incentivar à prática da bondade que deve prevalecer e orientar a construção do conhecimento e uso de tecnologia digital. Nas palavras de Saramago:

“Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efetivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.”4

Para alimentar ideias e palavras do autor, as bibliotecas escolares dispõem ainda do caderno de atividades da Fundação para o ano letivo 2020/ 2021, Cá dentro, lá fora e série documental Herdeiros de Saramago 6, estreada a 16 de novembro, data de aniversário do escritor e que liga a ficção à vida de 11 jovens escritores de língua portuguesa a quem foi entregue o Prémio Literário José Saramago.

 

Referências

1. Fundação José Saramago. (31 de julho de 2017). Carta Universal de Deveres e Obrigações dos Seres Humanos. Lisboa: Autor. Disponível em: https://www.josesaramago.org/carta-universal-dos-deveres-e-obrigacoes-dos-seres-humanos/

2. Fundação José Saramago. (12 de fevereiro de 2021). Blimunda 101. Lisboa: Autor. Disponível em: http://blimunda.josesaramago.org/

3. Fundação José Saramago. (9 de fevereiro de 2021). Palavras do designer Manuel Estrada, autor do logo do centenário. Lisboa: Autor. Disponível em: https://www.josesaramago.org/palavras-do-designer-manuel-estrada-autor-do-logo-do-centenario/

4. Fundação José Saramago. (10 de dezembro de 2014). Discurso pronunciado por José Saramago no dia 10 de dezembro de 1998 no banquete do Prémio Nobel. Lisboa: Autor. Disponível em: https://www.josesaramago.org/wp-content/uploads/2014/12/discursos_estocolmo_portugues.pdf

5. Fundação José Saramago. (28 de janeiro de 2021). Cá dentro, lá fora 2020/2021. Lisboa: Autor. Disponível em: https://www.josesaramago.org/ca-dentro-la-fora-2020-2021/

6. Marques, C.; Castanheira, G. (Dir.). (2020). Herdeiros de Saramago. S.l.: Midas Filmes. Disponível em: https://www.rtp.pt/programa/tv/p39692

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